há dores que nem dipirona cura
isso não é um texto sobre travesseiros (mas pode ser se você quiser)
há dias — na verdade, mais de mês — eu tenho sentido uma dor insistente no pescoço e no ombro. E às vezes nas costas.
pensei de cara que era o travesseiro baixinho que nos é disponibilizado aqui no alojamento. E, olha, bem poderia ser ele mesmo. Ou o colchão duro, que também maltrata essas costas de mais de 30 anos rodando sem óleo.
como tem uma hora que chega, entrei no site da Ikea, tirei o escorpião do bolso e comprei um par de travesseiros com aquele™ precinho/custo-benefício. Entregar em casa? Não, muito caro (10 euros!!!). Vamos guardar o escorpião no bolso.
enquanto isso, seguiria dormindo torta e acordando com dor, travada, cansada e com o maxilar travado.
até que veio a notícia da abertura da Ikea — a loja que eu sonhei tanto entrar durante meu hiperfoco de decoração.
vou lá comprar o travesseiro, né?
depois de passar por uma horda de senhoras parisienses enfurecidas, a notícia: acabou o travesseiro.
desisti de pagar mais barato, desisti de economizar no frete: eu não aguentava mais sentir dor. Comprei pelo site mesmo e estou há quase duas semanas esperando o travesseiro chegar — porque, adivinha, a entrega no posto de coleta também tá atrasada. E a Ikea só considera atraso a partir de 15 dias.
mais uns dias com dor e dormindo mal, disse pra mim mesma.
tomou doril, a dor sumiu?
eu fiz um negócio que simplesmente fez a dor passar e, olha só, não envolveu tomar dipirona ou miosan (não dessa vez).
tive um pico de ansiedade na quarta-feira passada. Pode ter sido por conta do trabalho, do dinheiro, da língua, motivos não me faltam — e mesmo que me faltassem, eu arranjaria algo pra me preocupar.
depois de ouvir de uma amiga igualmente ansiosa e TDAH que eu deveria fazer uma respiração pra me acalmar (sendo que ela mesma também vive desesperada kkkk te amo tamar), eu bem lembrei que não adiantaria nada disso: eu precisava levar meu cachorro interior pra passear. Ou colocar a criança interior pra brincar, como queira.
e não é que a dor passou?
pelo menos a física.

tem muito mais dor de onde essa veio
meu primeiro contato com terapia foi na clínica universitária da PUC, onde eu fazia tratamento gratuito. Fui pedir ajuda depois de muito tempo sentindo dores excruciantes no corpo, especialmente na região de maxilar, pescoço, ombros, costas e braços.
já precisei operar minha articulação temporomandibular (a famigerada ATM), tamanho o estrago. Um ortopedista, há uns anos atrás, achou que eu tava com tendinite, de tanta dor no braço, e me engessou.
é difícil acreditar que tanta dor tenha fundo emocional, mas essa foi a principal suspeita do anjo que, quando leu meu prontuário, me colocou como paciente no Grupo de Estudos do Corpo, lá na clínica universitária.
cavei muito pra encontrar de onde vinha tanta dor, mas só encontrei uma vala cheia de ossos que talvez eu nunca consiga identificar de onde vêm.
e digo mais: saber de onde eles vêm até é importante, mas o desafio mesmo é: o que eu faço com tudo isso? enfio num saco e carrego por aí, sobrecarregando meus ombros já doloridos?
e os novos corpos desovados nessa vala, que já tão liberando necrochorume? já falei em outro post e repito: pra além da minha personalidade ansiogênica, tenho muitos motivo pra seguir pilhadaça.
me ajude a segurar essa barra
quando vim morar fora, decidi que tentaria ficar um tempo sem terapia. Um tempo sem cavar.
pra ser sincera, terapia nenhuma faria essas dores passaram. Não fez em 7 anos, por que faria agora?
o que eu aprendi em todos esses anos foi, pra além de cavucar, que não dá só pra ficar olhando os ossos expostos. é preciso fazer algo com isso.
neste momento, acho que tô com os ossos dentro de um saco de entulhos.
a terra? tá toda fora do lugar.
e o que eu faço com tudo isso? Deixo exposto pra todo mundo ver? Enterro de novo os ossos e finjo que não existem?
tenho pensado que o melhor a ser feito é usar a terra pra plantar alguma coisa. Mas ainda não sei o que fazer com os ossos.
o que eu sei é que eu sigo com dores — mas quando elas aparecem, faço algo pra aliviar. Mexo o esqueleto, caminho, alongo. E mando pra dentro 1g de dipirona + 10mg de ciclobenzaprina.
é o que resta pra uma cachorrona como eu, né?
(esse post foi parcialmente ditado pro teclado do meu celular enquanto eu saía do banho depois de meia hora de exercício intenso, segurando firme nas últimas endorfinas NI NU NI NUUUU NINUNINUNIIII)
Também sofro com DTM, o tratamento com CBD + placa feita e bem ajustada por dentista ajudou muito, mas algo acessível que ajuda demais é compressa quente: colocar em cima da cabeça, pelo maxilar, alivia muito
Parecia que era sobre mim seu texto 😅... Descobri que sou hipermóvel, logo, articulações moles que me causam dores diárias nos maxilares, masseter, nuca, ombros. Pilates me ajuda muito pois movimentar lubrifica as articulações.